sábado, 3 de abril de 2010

Sentimento do mundo - C.D.A.


"Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escavos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor. "

pensamentos...

Hoje acordei pensando nos sonhos que tive. Luzes, cores, aromas e imagens não se fixaram na minha mente, mas esvaneciam-se, como a poeira no ar, como as pessoas que somem em meio à multidão, como a fumaça que sorrateiramente desaparece em meio ao nada. Acordei e algumas coisas pareciam estar em seu lugar. Ai, como é difícil viver! Sentir-se perto de (quase) tudo mas distante de tantas necessidades que criamos. O problema não está no convívio diário com nossos problemas e frustrações, mas na irremediável necessidade de se aproximar daquilo que não temos, daquilo que está a poucos (?) metros de nós.

sábado, 10 de outubro de 2009

poema 3

je serai là

toujours là

où les oiseaux n'arrivent pas

où les amoureux se trouvent

où nous nous rencontrerons toujours

toi et moi

poema 2

sou
uma alma atormentada
e apaixonada!

poema 1

as horas se arrastam sem você por perto
caminho entre árvores secas e o lodo cobre meus passos
incerteza dos dias
e mesmo o sol que aparece na fresta da janela
é capaz de me aquecer
novo dia
mesma hora
mesma dor
mesmo falta
estarei aqui debruçada entre lembranças...
entre suas roupas que ficaram no canto da sala
entre seu cheiro que embriaga
e sua ausência que enlouquece.

domingo, 9 de agosto de 2009

Dentro do silêncio

Ouviu a batida seca e forte na porta. Ainda estava no quarto, revirando as caixas repletas de antigas lembranças. na caixa, papéis amarelados pelo tempo guardavam as palavras e as lembranças de uma época não muito distante em sua memória. Pegava uma por uma, com impetuosidade de rever, reviver cada momento que ficara para trás. Mergulhada em momentos de alegria e tristeza, sentada no chão do quarto de hóspedes, Marília já não se sentia mais presente naquele dia, com todas as suas obrigações, seus papéis beijados, suas fotos rasgadas, suas memórias transformadas em poeira. Voltou-se para o barulho que a pouco a incomodou. olhou para a porta, para todo o interior do quarto sem mobília. Fez um esforço para se levantar e apoiando-se na sua ansiedade foi ver quem era. Desceu a passos lentos a escada que dava nos fundos da sala. Parou mais um instante. Viu de súbito um porta retrato pendurado perto da escada. Era de sua antiga família, aquela que tinha acolhido naquele dia triste de chuva. Um vento forte balançou as cortinas e trouxe o cheiro velho da infância. As risadas, os passos pesados e barulhentos dos parentes, o cheiro do almoço de domingo, tudo estava ali, diante dela. Matéria do tempo, impossível apagar. Mas não era nada, apenas as lembranças que agitam a casa, as paredes, a vida. Tudo voltava a ser silêncio, silêncio duro e frio. Marília subiu as escadas. Pensava como iria guardar todas as aquelas lembranças que já não cabiam dentro da casa, das paredes, de si.

a leitora


virou a última página do livro.

cheguei! pensou entusiasmada. olhou para todos os lados para ver se alguém a observava.

um pouco de cólera.

um vento frio e seco cobriu sua face.

sozinha no quarto já não pensava mais na história, no desfecho a um ponto de ser solucionado, mas apenas no que teria que abandonar quando terminasse de ler a ultima palavra seguida do ponto final. resolveu então, arriscar-se, a ler repetidas vezes a mesma palavra, mesma sentença.

leu baixinho, para que apenas ela escutasse. nem as janelas, nem o silêncio das paredes de seu quarto poderiam ouvir tal confissão.