Ouviu a batida seca e forte na porta. Ainda estava no quarto, revirando as caixas repletas de antigas lembranças. na caixa, papéis amarelados pelo tempo guardavam as palavras e as lembranças de uma época não muito distante em sua memória. Pegava uma por uma, com impetuosidade de rever, reviver cada momento que ficara para trás. Mergulhada em momentos de alegria e tristeza, sentada no chão do quarto de hóspedes, Marília já não se sentia mais presente naquele dia, com todas as suas obrigações, seus papéis beijados, suas fotos rasgadas, suas memórias transformadas em poeira. Voltou-se para o barulho que a pouco a incomodou. olhou para a porta, para todo o interior do quarto sem mobília. Fez um esforço para se levantar e apoiando-se na sua ansiedade foi ver quem era. Desceu a passos lentos a escada que dava nos fundos da sala. Parou mais um instante. Viu de súbito um porta retrato pendurado perto da escada. Era de sua antiga família, aquela que tinha acolhido naquele dia triste de chuva. Um vento forte balançou as cortinas e trouxe o cheiro velho da infância. As risadas, os passos pesados e barulhentos dos parentes, o cheiro do almoço de domingo, tudo estava ali, diante dela. Matéria do tempo, impossível apagar. Mas não era nada, apenas as lembranças que agitam a casa, as paredes, a vida. Tudo voltava a ser silêncio, silêncio duro e frio. Marília subiu as escadas. Pensava como iria guardar todas as aquelas lembranças que já não cabiam dentro da casa, das paredes, de si.
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