sábado, 8 de agosto de 2009

ma vie à moi!


Escorregou das mãos sem que ela percebesse. Tinha deixado algumas coisas irem, passarem desapercebidas, mas desta vez sentia q algo diferente acontecera. Em suas mãos o cheiro da lembrança, a proximidade de algo que tinha acabado de terminar.
Sentada na beira de sua cama Catarina já não podia mais suportar o peso da opressão que vivia há 20 anos.
Os gritos de sua mente ecoavam no quarto cinza e frio.
Uma luz clara e tépida iluminava o pedaço de papel que segurava. Ensaiou os primeiros movimentos, as primeiras palavras de uma nova e surpreendente vida. Seus dedos, congelados pela frieza do última palavra lida não conseguiam nem tocar seus lábios, paralisados pela iminente descoberta. De sua boca um líquido viscoso escorria, pingava na roupa, escorreu entre os seios. Em um momento, se abraçou. E desejou que tudo se misturasse a ela, os pensamentos de Schopenhauer, a audácia daqueles que tem coragem de ir adiante, amores inacabados, gestos quase completos, mãos que quase se moldaram, corpos que por um instante deixaram de se tocar.

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